Capítulo 1

29/09/2013 10:20

Pôs um leve sorriso nos lábios. O cigarro impossibilitava qualquer sorriso que, no mais, fosse maior, então, no mais, dava de ombros. O serviço estava feito e não havia como negar que ela simplesmente era a melhor em fazer aquilo em toda a Rússia. Contudo, não teria feito se não fosse pelo dinheiro que chegaria a sua mão de maneira fácil, afinal precisava pagar as contas. O dinheiro que recebia tendo aquela vida ordinária de professora de línguas não era realmente nada se equiparado àquilo que fazia quando se munia de sua sensualidade ou, ainda, quando tinha uma boa arma em mãos – o dinheiro atrás disso era incrivelmente alto, só que o risco por trás de tudo isso a fazia cogitar se isso valia realmente a pena. No entanto, sabia a vida muito bem: não podia viver disso para o resto.

 

Pôs um leve sorriso nos lábios. O cigarro impossibilitava qualquer sorriso que, no mais, fosse maior, então, no mais, dava de ombros. O serviço estava feito e não havia como negar que ela simplesmente era a melhor em fazer aquilo em toda a Rússia. Contudo, não teria feito se não fosse pelo dinheiro que chegaria a sua mão de maneira fácil, afinal precisava pagar as contas. O dinheiro que recebia tendo aquela vida ordinária de professora de línguas não era realmente nada se equiparado àquilo que fazia quando se munia de sua sensualidade ou, ainda, quando tinha uma boa arma em mãos – o dinheiro atrás disso era incrivelmente alto, só que o risco por trás de tudo isso a fazia cogitar se isso valia realmente a pena. No entanto, sabia a vida muito bem: não podia viver disso para o resto

de sua existência; queria poder viver como a pessoa que era antes de sua necessidade falar mais alto. Não queria ser para sempre aquela pessoa debochada.

O homem a sua frente um sorriso ligeiramente maior que o que brotava nos lábios daquela mulher: ao contrário dela, sentia prazer em tais serviços, por isso, era verdadeiro. Ele também era bom naquelas coisas, mas preferia participar de uma morte, mais lenta, enquanto ela gostava daquela situação mais sangrenta. Trocaram um leve beijo quando então tinham que se afastar um do outro, pouco depois de ela ter jogado a bituca no chão. Então ele a elogiou rapidamente, o que a fez se sentir logo depois:

— Ótimo trabalho, Valia.

— Eu sempre faço um bom trabalho, Vladmir.

— Vá para casa. Acabei de fazer a transação dos rublos. Você agora é quase milionária. Pode dar uma educação decente a sua filha, finalmente.

Deu de ombros e antes de partir, colocou seu M40A5 no seu habitual protetor fora de suspeitas e desceu rapidamente aqueles vinte andares. A partir daquele momento, ela já não era miseramente uma caçadora de recompensas; sua vida passava a se resumir miseramente em ser aquela ruiva de olhos verdes, mãe solteira e que era professora de idiomas; era Valia Dasha Nikolaevich, aquela que desejava ansiosamente estar ao lado de sua pequena Elisa, pois aquela era a melhor parte de sua vida: era como se pudesse esquecer mais facilmente a história que a rondava.

O sorriso era inegável quando viu a pequena multidão a frente do grande e alaranjado prédio de negócios, em geral, assustadas. Era impossível negar que Vladmir tivesse razão: realmente ela havia feito um ótimo negócio.

 

*******

 

Quando entrou em casa, viu-a escura. Era algo comum pelo horário que estava chegando. Raramente o trânsito se acumulava perto do Rio Neva, mas quando isso acontecia, simplesmente era um inferno sair dali e isso era realmente ruim para uma mãe de uma criança pequena. Contudo, ela não era nenhum pouco idiota para deixar a sua menininha sozinha em casa: havia Cathèrine para confiar, se é que essa não resolvera dar uma de louca e ir para a balada porque isso seria de extrema idiotice. Aquilo era uma troca de favores, simplesmente.

Chamou e deu um suspiro aliviado quando a loura apareceu da porta da cozinha com uma lixa nas mãos – claramente, Valia havia interrompido um servicinho muito útil feito pela outra, que a olhava irritadamente.

— Onde está minha filha?

— Na cama. Não sou tão irresponsável.

— Que bom, porque pelo menos você é capaz de fazer algo além de lixar as unhas, porque colocar dinheiro que é bom, dentro de casa, você não o faz.

— Olha, eu trabalho, tá?

— Vendendo o corpo! Uhu, que coisa digna!

— Ao menos eu trabalho.

Valia revirou os olhos. Às vezes, infelizmente, era obrigada a aguentar àquela sujeita que Vladmir havia colocado dentro de sua casa. O pior é que não podia falar demais, simplesmente porque sua vida dupla restringia-se apenas entre Vladmir e ela, mesmo porque ele era o fator atrás de todas as negociações. Valia a pena fazer um negócio como aquele com ele, simplesmente porque havia vantagens. Vladmir era o seu chefe, o maior mafioso de toda a parte ocidental da Rússia, bem como de toda a Finlândia e Suécia, o que a fazia ter vantagens de negociar diretamente e aquilo valia muito a pena, tais como, por vezes, poder se relacionar com ele de diversas formas, inclusive sexualmente falando; e sem dúvida alguma, ele era um homem que a fazia sentir muito realizada.

Quando se preparava para seguir em direção ao quarto da filha, a voz de Cathèrine a barrou:

— Então, a gente vai brincar hoje?

Valia foi brusca com sua fala e continuou seu trajeto:

— Não!

— Nossa, que mau-humor. Odeio quando você fica assim.

— Foda-se.

Não a importava. A filha era bem mais importante do que fazer despertar os prazeres de Cathèrine; a sua bebê era tudo o que tinha de precioso, pois era fruto do homem que mais amara em sua vida e, contudo, fora aquele a despertar o inferno que vivia. Amara-o, mas também o odiara na mesma proporção. Se não fosse por ele, talvez não tivesse que recorrer a Vladmir para poder manter a sua situação de vida tão boa quanto era antes de sair da casa dos pais, expulsa após descobrirem sua gravidez precoce.

Acariciou o rosto da filha levemente, sua princesinha, que não precisava saber a realidade à qual a mãe estava inserida até a cabeça. Gostaria de ter permanecido naquela inocência da filha; aquela era a melhor parte da infância. A menininha sorriu levemente enquanto dormia: estava acordando com o toque e perfume agradável da mãe.

— Mamãe — Elisa disse, sonolenta —, eu amo você.

— Eu também te amo, minha bebê.

— Mamãe, eu sou bem grandinha! Tenho sete anos.

— Eu sei, minha linda — suspirou fortemente. — Como foi na escola hoje?

— Tudo correu bem, melhor que nos outros dias. E no trabalho?

— Tudo correu bem, também — como sempre, mentiu. — Volta a dormir, lindinha. Amanhã, nós vamos acordar cedo para passearmos, que tal? Podemos ir ao Peterhof, já que você gosta tanto de lá.

— Uhum — a menina deu um leve bocejo.

A garota deu um sorrisinho leve e então tornou a fechar os olhos. Valia só fez depositar um beijo na testa da filha e depois saiu do quarto decorado conforme a idade da menininha, fechando a porta com cuidado. Estava muito cansada – seguir àquela dupla profissão diariamente era o mesmo que mata-la aos poucos, mas era para dar uma boa condição de vida à filha que fazia aquilo, apenas por ela; assim sendo, sabia que ambas mereciam muito mais do que estar naquele apartamento mínimo. Em pouco tempo, compraria uma casa em Rubliovka, juntaria suas coisas e mudar-se-iam com a filha; não tinha vontade de voltar a viver perto da Baía do Neva – aquele lugar não havia lhe trago muitas boas lembranças e despertava as piores quando era obrigada a passar por ali para ir para casa; além do mais não queria entregar de bandeja as piores de suas dores à garotinha que carregara em seu ventre. Ela não merecia, afinal era a sua princesinha.